Total de visualizações de página

quarta-feira, 24 de agosto de 2011


A nossa História




Dom João III, o rei de Portugal, andava apreensivo. As riquezas do tesouro real, advindas da abertura do caminho marítimo para as Índias, declinavam ano após ano. Ao contrário do esperado, o Oriente mostrava-se "um sumidouro de gente, de armas e de dinheiro".
Enquanto isso, as novas terras, do outro lado do Atlântico, "mandadas descobrir" por seu pai em 1500, eram freqüentemente invadidas por piratas e contrabandistas. Se não tomassem providências enérgicas, os portugueses corriam o risco de perder o Brasil.
Foi por isso que, no dia 29 de março de 1549, seis navios a vela deitaram âncoras, na entrada da baía de Todos os Santos. Era Tomé de Souza que chegava ao Brasil. Vinha para fundar, por ordem do rei de Portugal, a cidade de São Salvador.
A localização havia sido escolhida a dedo. Primeiro, por situar-se entre as únicas duas capitanias hereditárias que haviam dado certo: a Nova Lusitânia (Pernambuco) e São Vicente (São Paulo). Depois, por ser possível contar ali com a ajuda de Diogo Álvares, um português que naufragara na região em 1510, e se tornara muito influente entre os índios, que o chamavam Caramuru.
Entre as mil e quinhentas pessoas que vinham com o fidalgo, haviam altos funcionários da coroa, padres, soldados, artesãos, pedreiros, carpinteiros, colonos, quatrocentos criminosos deportados de Portugal - os chamados degredados - e um rapaz de 28 anos de nome Garcia d'Ávila.

O jovem Garcia era criado de Tomé de Souza, seu braço direito e homem de confiança. E foi a ele que o governador entregou as chaves do depósito de víveres e materiais trazidos pela frota.

A cidade fortificada foi construída no prazo recorde de oito meses e oficialmente inaugurada em 1º de novembro de 1549. Para dinamizar a economia local, o governador resolveu mandar buscar gado nas ilhas de Cabo Verde, na África. As reses chegaram no dia 6 de dezembro de 1551 e foram distribuídas entre os colonos.

Garcia d'Ávila pediu e foi atendido. Ganhou duas vacas. Entregou então o cargo de almoxarife e foi cuidar do gado. Não existem registros sobre a fórmula mágica que usou, mas é fato que, um ano depois, já era dono de duzentas cabeças de gado. Precisava de terras mais amplas. E Tomé de Souza cedeu a ele, em nome do rei, duas léguas de beira mar, entre a foz do rio Vermelho, nos limites da cidade, e a ponta de Itapoan.
Os índios tupinambás, que viviam em volta, não impediram a expansão da fazenda. Até porque, Garcia d'Ávila tratou logo de amancebar-se com uma índia, a quem deu o nome cristão de Francisca Rodrigues, e com quem teve uma filha batizada como Isabel d'Ávila.
Ataques piratas eram um perigo constante. Por sugestão do governador, Garcia d'Ávila construiu ao norte de suas terras uma torre alta e, do alto dela, por meio de sinais luminosos, avisava à cidade de São Salvador a aproximação de navios inimigos. A partir de então, sua propriedade ganhou fama, prestígio e passou a ser conhecida como Casa da Torre.
Por volta dos 40 anos, Garcia d'Ávila já era um dos homens mais ricos do Brasil. E sua amizade com Tomé de Souza foi lhe rendendo novas e maiores sesmarias. Não tardou muito, e os domínios da Casa da Torre se estendiam por todo o litoral Norte. Iam da foz do rio Vermelho, em Salvador, até a do rio Real, em Sergipe.
Ao morrer, em 23 de maio de 1609, era Garcia d'Avila o maior potentado da Colônia e, como vereador do Senado da Câmara, foi considerado uma das mais importantes individualidades políticas do seu tempo.


Dias 'Ávila e sua Origem


                                                          ENTRADA DE DIAS D´AVILA



Desde o século XVII, já constava dos velhos alfarrábios dos padres jesuítas, guardados a sete chaves pelos prepostos da ordem, que o “sitio onde se situava o arraial do Capuame – que fazia parte do maior latifúndio do Brasil, a Casa da Torre, herança de Garcia D’Ávila que veio de Portugal com a comitiva de Tomé de Souza – era excelente pela qualidade de suas águas, de grande valia para cura de certas moléstias e como local de descanso para refazer o corpo e o espírito”. 
 Com o passar do tempo, as paragens do Capuame se tornaram importante entreposto de gado, que abasteciam os currais de Itapagipe, na capital baiana. Nesta época era conhecida por Feira Velha do Capuame. Durante a guerra da Independência teve relevante papel no fornecimento de gado para as tropas brasileiras, já que Salvador, nas mãos de Madeira de Melo, não permitia que os suprimentos chegassem até o exército separatista. Também é deste tempo a figura de Santos Titara, nascido por estas plagas e que se destacou como um dos heróis da independência. Ele foi o autor do “Hino ao Dois de Julho”, até hoje, um dos símbolos da vitória brasileira contra o jugo português.
Em 1927, por iniciativa do deputado Ademário Pinheiro, e sugestão do historiador Francisco Borges de Barros, a Feira Velha passa a chamar-se Dias D’Ávila, em homenagem a Francisco Dias D’Ávila II, o destemido bandeirante que ampliou os limites do latifúndio da Torre, embrenhando-se pelas matas até o atual estado do Piauí, capturando índios e anexando terras para a sesmaria dos D’Ávila.
     PRAÇA   ACM

Na década de 40, o padre jesuíta francês, Camilo Torrend, eminente botânico e estudioso dos campos de Dias D’Ávila, tendo acesso a documentos antigos da ordem, mandou analisar a água e a lama do rio Imbassay, em laboratórios franceses, e recebeu um resultado surpreendente: Aquelas águas eram comparáveis à das melhores estâncias européias, com qualidades terapêuticas poderosas e, mais ainda, a lama possuía propriedades medicinais louváveis, principalmente para as moléstias de pele.

                                                                 PRAÇA   ACM


                                                   
A notícia correu alastrando-se com grande velocidade e ganhando as cidades vizinhas e a capital, espalhou-se por toda a Bahia e até mesmo por outros estados. Dias D’Ávila tornou-se uma cidade de veraneio famosa, com chácaras aprazíveis, com belas e arborizadas vivendas aonde as celebridades baianas da época, vinham, obrigatoriamente, beber a saudável água. Na década de 50, dava gosto de se ver, aos domingos, a chegada do trem (que era chamado “Pirulito”) abarrotado de turistas para passar o dia na famosa “estância das águas”. Foi quando surgiu a folclórica figura do aguadeiro que levava o líquido precioso retirado do rio, em lombo de jegues, de porta em porta pela cidade, apregoando e vendendo aquilo que os veranistas vinham buscar na cidade. E no trem, todos regressavam a seus lares carregando garrafas, galões, botijões e outros recipientes com a água que já ganhava o rótulo de “a mais leve do Brasil”.
                                                                LINHA DO TREM

Na década de 70, com a chegada do Pólo Petroquímico, houve uma afluência enorme de pessoas que vinham de todas as plagas em busca do sonho do emprego. A partir de 1976, Camaçari começou a ter um crescimento acentuado e, sob a regência do capitão engenheiro Humberto Ellery, iniciou obras de expansão do município. Dias d’Ávila, já vinha sendo desfigurada devido ao crescente número de trabalhadores, que se instalavam e transformavam suas belas chácaras em repúblicas; era a cidade dormitório que se aboletava desalojando os antigos moradores.
   A partir daí ela começou a perder sua condição privilegiada de estância, ficando abandonada pela sede do município, que já sofria imensos problemas.



Emancipação Política
Com o crescimento decorrente da instalação do Pólo e abandono pela prefeitura de Camaçari que, por já ter suficientes problemas não podia se preocupar com o distrito, começou a se fortalecer em algumas pessoas o sentimento de emancipar a estância, criando a cidade de Dias D’Ávila.
Foi nesta situação que um grupo de idealistas, no final dos anos 70, criou a Sociedade Amigos Dias D’Ávila, com o intuito de trazer melhorias para a população do distrito. As conquistas maiores dessa época foram a vinda da 25ª Delegacia, com prerrogativas semelhantes àquelas de Salvador e a criação do ponto do ônibus para a capital.
O objetivo maior da Sociedade, entretanto, era criar condições econômicas para emancipar o município. Foi preciso muita luta para se chegar a um final feliz. Os limites do município tiveram que ser refeitos.
Hoje muitos criticam os limites, mas, na época, foram estes os possíveis e, também, os que criaram as condições que hoje nos asseguram uma sólida posição econômica dentre os quatrocentos e tantos municípios baianos. Muitas idas ao Governador do Estado e seus secretários, muitos pedidos e muito mais negativas do que aquiescências às reivindicações. Dentre os amigos dedicados que se empenharam, desde o princípio, nesta luta formidável destacamos, para que a história lhes dê o reconhecimento que merecem, os seguintes: Dr. Mozart Pedroza, Profª. Altair da Costa Lima (falecida), Profª. Laura Folly, Dr. Ezequildes Nunes, Deputado Clodoaldo Campos (falecido), Gilson Galvão de Souza, Lucas Evangelista dos Santos, Fernando Gimeno, Flávio Cavalcante de Oliveira, Mário Padre (falecido), José Osmar Muricy, Dep. Nestor Duarte, Dr Raimundo Brito (na época presidente da Caraíba Metais), Beth Gimeno e Osmar de Andrade. Muitos outros chegaram depois, e com muito denodo lutaram pela emancipação como se desde o inicio lá se encontrassem. Dentre outros temos: Carlos Augusto Deiró, Domingos Azevedo (Dó), Serrador, Zezito, Hélio Pozzi, Moacyr Duarte, Augusto Guiotti, Prof. Leite, Edmundo Magalhães e vários outros que, por extensa lista, não conseguimos recordar
Com a inclusão da Caraíba Metais nos limites do novo município, foram criadas as condições econômicas para se atingir o objetivo e no dia 25 de junho de 1984, era publicada a lei que ratificava os limites e criava o município de Dias D’Ávila. A partir daí, estava, definitivamente, deflagrado o processo da emancipação. O plebiscito foi marcado para o dia 25 de novembro, daquele ano de 84. Dias D’Ávila possuía, então, três mil e quinhentos eleitores, grande parte não residente ou falecido, pois a maior parte dos residentes era oriunda de outros estados e não tinham, ainda, título transferido. No dia do evento, a prefeitura de Camaçari colocou ônibus gratuitos para as praias do litoral, pois era necessário um mínimo de 50 % dos eleitores votantes. Foi lindo ver-se as pessoas da cidade mobilizadas para trazer eleitores para a votação. Doentes trazidos em cadeiras, gente que tomava banho nos rios. Serrador afirma que rodou mais de mil quilômetros só dentro do município. O quorum se deu com pouco mais de cinqüenta votos e quando foi concluída a apuração – logo após o pleito – verificou-se que, apenas dezesseis pessoas haviam votado contra. No dia 25 de fevereiro de 1985, foi, finalmente, publicada a Lei que elevava o distrito de Dias D’Ávila à condição de cidade. A Sociedade Amigos de Dias D’Ávila ainda conseguiu mais uma vitória: Incluiu o novo município, com a ajuda do desembargador Mário Albiani, na reforma judiciária, em dezembro de 84, criando a Comarca de Dias D’Ávila. Assim, o município que só foi emancipado em fevereiro de 85, já era comarca desde dezembro, criando um fato único na história de nossa terra.




Hino de Emancipação

AUTOR: ALOYSIO VALVERDE
Criado em 06 de setembro de 1992

Dias D’Ávila de um semblante tão fecundo,
Seu caulim e água nobre a fluir,
Dando áurea salutar à todo mundo,
E grande futuro a conduzir. ( BIS )
Suas noites de estrelas cintilantes,
Que no céu nos convidam a contemplar,
Nas manhas, o sol nascente tão brilhante,
Com crescente luz a irradiar. ( BIS )
Em outros tempos, velhos tempos que passaram,
Feira velha, das boiadas e currais,
O Imbassai sempre sereno aos que sonharam,
Dando tantas curas naturais. ( BIS )
Capuame foi seu nome mais antigo,
Santos Titara nasceu nesta freguesia,
Que voluntário combateu o inimigo.
Pela Independência da Bahia. ( BIS )

Nenhum comentário:

Postar um comentário